sábado, 10 de fevereiro de 2024

Três poemas de Joyce Mansour



   O surrealismo francês produziu nomes de altíssimo valor – Paul Éluard, Louis Aragon, Benjamin Péret e outros. Ainda pouco conhecido entre nós, porém, é o nome de Joyce Mansour (1928-1986), de origem egípcia, cuja obra poética não ostenta brilho menor do que as de seus pares. Os versos de Mansour, sempre livres, caracterizam-se pela agudeza de imagens que, em breves palavras, dão corpo ao ímpeto revolucionário inerente à linguagem poética – um de seus mais formidáveis atributos. 
    A seguir, tento a tradução de três de seus pequenos poemas.


Combien d’amours ont fait crier ton lit?
Combien d’années ont ridé tes yeux?
Qui a vidé tes seins épuisés?
Je t’ai regardé avec mes yeux de plomb
Et mes illusions ont éclaté
Laissant derrière elles
Ta vieillesse
Qui ne peux répondre à mes questions.

-
Quantos amores fizeram tua cama chorar?
Quantos anos te enrugaram os olhos?
Quem esvaziou teus seios enxutos?
Vi-te com meus olhos de chumbo
E minhas ilusões se romperam
Deixando atrás
Tua velhice
Que não pode responder às minhas perguntas.



Invitez-moi à passer la nuit dans votre bouche
Racontez-moi la jeunesse des rivières
Pressez ma langue contre votre œil de verre
Donnez-moi votre jambe comme nourrice
Et puis dormons, frère de mon frère,
Car nos baisers meurent plus vite que la nuit.

-
Convida-me a passar a noite em tua boca
Fala-me sobre a juventude dos rios
Aperta minha língua contra teu olho de vidro
Dá-me tua perna como ama de leite
E depois durmamos, irmão de meu irmão,
Pois nossos beijos morrem mais depressa do que a noite.



Je suis la nuit
Cette nuit d’espace glacée par la froide imbécilité de la lune.
Je suis l’argent
L’argent qui fait l’argent sans savoir pourquoi.
Je suis l’homme
L’homme qui presse la gâchette et tire l’émotion
Pour mieux vivre.

-
Eu sou a noite
Esta noite de espaço gélido pela fria tolice da lua.
Eu sou o dinheiro
O dinheiro que faz o dinheiro sem saber por quê.
Eu sou o homem
O homem que puxa o gatilho e alveja a emoção
Para viver melhor.

(De Emerald Wounds – Selected Poems)

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