quarta-feira, 1 de março de 2023

Thoreau: viver deliberadamente

 


    Durante anos, Henry David Thoreau (1817-1862), profundamente insatisfeito com a rotina urbana, alimentou a vontade de morar sozinho nos bosques, e vários elementos se compuseram para que decidisse, em 1845, ir às margens do lago Walden, em Massachusetts. Lá, Thoreau construiu uma casinha de madeira e, apesar de inexperiente como agricultor, tentou a autossuficiência, plantando batatas e providenciando a própria alimentação.
    As diversas notas que Thoreau escreveu enquanto habitava os entornos de Walden formam mais do que o simples relato de um isolamento. Thoreau nos convida a refletir sobre um modo de viver em que a felicidade não se traduz na posse de bens materiais, mas apenas na plenitude interior do indivíduo: desprendido de perturbações vãs e desejos mesquinhos, o homem passa a fortalecer-se do tutano essencial da vida, a apreciar por sua experiência particular a beleza simples que alumia o mundo.


    I went to the woods because I wished to live deliberately, to front only the essential facts of life, and see if I could not learn what it had to teach, and not, when I came to die, discover that I had not lived. I did not wish to live what was not life, living is so dear; nor did I wish to practise resignation, unless it was quite necessary. I wanted to live deep and suck out all the marrow of life, to live so sturdily and Spartan-like as to put to rout all that was not life, to cut a broad swath and shave close, to drive life into a corner, and reduce it to its lowest terms, and, if it proved to be mean, why then to get the whole and genuine meanness of it, and publish its meanness to the world; or if it were sublime, to know it by experience, and be able to give a true account of it in my next excursion.

   Eu fui para os bosques porque queria viver deliberadamente, encarar apenas os fatos essenciais da vida e saber se podia aprender o que ela tinha a me ensinar – e não descobrir, à hora da morte, que não vivi. Eu não queria viver o que não era vida, pois é tão belo estar vivo, e tampouco queria praticar a resignação, a menos que fosse totalmente necessária. Eu queria viver intensamente e sugar todo o tutano da vida, viver tão vigorosa e espartanamente a ponto de aniquilar tudo aquilo que não fosse vida, deixando o espaço limpo e raso; eu queria encurralar a vida e reduzi-la a seus aspectos mais primitivos – e, se a vida se revelasse mesquinha, queria então adentrar-me em sua total e genuína mesquinhez e divulgá-la ao mundo; ou, se fosse sublime, sabê-lo por experiência própria e poder produzir um verdadeiro relato sobre ela em minha próxima excursão.

(THOREAU, Henry David. Walden, A Fully Annotated Edition.
London: Yale University Press, 2004, pág. 88)


Walden Pond at sunrise. Photograph: Gabriel Negron/Alamy.


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