Dentre os poetas poloneses famosos do século XX, parece-nos ser Wisława Szymborska (1923-2012) quem mais habilmente sabe manejar a ironia. Em Alguns gostam de poesia, de 1993, Szymborska despe a arte poética de qualquer pedantismo: a poesia admite múltiplas definições, e, mesmo assim, persiste indefinida.
Para Szymborska, pouco importa teorizar sobre o ofício do verso, pois bastam-lhe a expressão do autor e a sensibilidade do leitor – nelas, talvez, encerrem-se o seu significado e a sua essência.
Alguns gostam de poesia
Alguns –
ou seja nem todos.
Nem mesmo a maioria de todos, mas a minoria.
Sem contar a escola onde é obrigatório
e os próprios poetas
seriam talvez uns dois em mil.
Gostam –
mas também se gosta de canja de galinha,
gosta-se de galanteios e da cor azul,
gosta-se de um xale velho,
gosta-se de fazer o que se tem vontade
gosta-se de afagar um cão.
De poesia –
mas o que é isso, poesia.
Muita resposta vaga
já foi dada a essa pergunta.
Pois eu não sei e não sei e me agarro a isso
como a uma tábua de salvação.
Alguns –
ou seja nem todos.
Nem mesmo a maioria de todos, mas a minoria.
Sem contar a escola onde é obrigatório
e os próprios poetas
seriam talvez uns dois em mil.
Gostam –
mas também se gosta de canja de galinha,
gosta-se de galanteios e da cor azul,
gosta-se de um xale velho,
gosta-se de fazer o que se tem vontade
gosta-se de afagar um cão.
De poesia –
mas o que é isso, poesia.
Muita resposta vaga
já foi dada a essa pergunta.
Pois eu não sei e não sei e me agarro a isso
como a uma tábua de salvação.
(Wisława Szymborska. Poemas. Tradução de Regina Przybycien.
São Paulo: Companhia das Letras, 2011, pág. 91)
Muito bom!
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