quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Derek Walcott: O Punho

 


    No poema a seguir, o santa-lucense Derek Walcott (1930-2017) vale-se de palavras simples para comunicar-nos a natureza ambígua do amor. The Fist (O Punho) nos mostra que o amor nos asfixia, causa-nos dor e nos rouba da razão – e que é desse sofrimento que nosso coração se alimenta. Porque amar, embora tantas vezes nos seja um ato amargo, é essencial à própria vida; a necessidade do amor nos faz viver.


THE FIST

The fist clenched round my heart
loosens a little, and I gasp
brightness; but it tightens
again. When have I ever not loved
the pain of love? But this has moved

past love to mania. This has the strong
clench of the madman, this is
gripping the ledge of unreason, before
plunging howling into the abyss.

Hold hard then, heart. This way at least you live.


O PUNHO

O punho que me aperta o coração
afrouxa um pouco, e eu arquejo
luminoso; mas ele espreme
de novo. Quando foi que não amei
a dor de amar? Mas isto fez ser

mania o amor de outrora. Isto tem o severo
aperto do homem louco, isto
atordoa à beira do delírio, antes
do mergulho uivante no abismo.

Firme então, coração. Assim, pelo menos tu vives. 


(Derek Walcott. Sea Grapes. EUA: Macmillan Publishers, 1971).

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