quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Cinco poemas de Nietzsche

 


    Friedrich Nietzsche (1844-1900) nos diz que o espírito humano atinge sua mais poderosa forma quando passa a criar seus próprios valores, determinar seu modo de existir, estabelecer a si mesmo o bem e o mal. O homem, então, torna-se a união do corpo e da terra, da razão e dos sentimentos, do criador e da obra.
    Talvez isso nos explique por que Nietzsche, além da conhecida figura que martelou tantos ídolos, foi um notável poeta. Nietzsche via nas artes um meio de enaltecer a vida. E reside, em seus versos, sua principal mensagem: uma ânsia calorosa por viver desacorrentado, puro, soberano de si.
    A seguir, cinco de seus curtos poemas.


POR CIMA DA MINHA PORTA

Vivo na minha própria casa,
Nunca imitei nada de ninguém
E – ainda me ri de todo o mestre
Que não riu de si mesmo.


PARA QUEM SOUBER DANÇAR

Gelo liso,
Um paraíso
Para quem souber dançar.


ALMAS ESTREITAS

São-me odiosas as almas estreitas:
De nada bom, quase de nada mau são feitas.


ECCE HOMO

Sim, bem sei donde provenho:
Insatisfeito, como chama em seco lenho,
Vou ardendo e me consumo.
Tudo o que toco faz-se luz e fumo,
Fica em carvão o que foi minha presa:
Sim, sou chama com certeza.


MORAL DE ESTRELA

Predestinada à carreira de astro,
Que te importa, Estrela, a escuridão?

Rola feliz através deste tempo!
Longe e alheia te fique a sua miséria!

O teu brilho pertence aos mundos mais distantes:
Pecado seja para ti a compaixão!

Um só mandamento vale para ti: Sê pura!


(Friedrich Nietzsche. Poemas. Tradução de Paulo Quintela.
Coimbra: Centelha, 1986, págs. 125, 133, 135, 153).

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