Friedrich Nietzsche (1844-1900) nos diz que o espírito humano atinge sua mais poderosa forma quando passa a criar seus próprios valores, determinar seu modo de existir, estabelecer a si mesmo o bem e o mal. O homem, então, torna-se a união do corpo e da terra, da razão e dos sentimentos, do criador e da obra.
Talvez isso nos explique por que Nietzsche, além da conhecida figura que martelou tantos ídolos, foi um notável poeta. Nietzsche via nas artes um meio de enaltecer a vida. E reside, em seus versos, sua principal mensagem: uma ânsia calorosa por viver desacorrentado, puro, soberano de si.
A seguir, cinco de seus curtos poemas.
POR CIMA DA MINHA PORTA
Vivo na minha própria casa,
Nunca imitei nada de ninguém
E – ainda me ri de todo o mestre
Que não riu de si mesmo.
PARA QUEM SOUBER DANÇAR
Gelo liso,
Um paraíso
Para quem souber dançar.
ALMAS ESTREITAS
São-me odiosas as almas estreitas:
De nada bom, quase de nada mau são feitas.
ECCE HOMO
Sim, bem sei donde provenho:
Insatisfeito, como chama em seco lenho,
Vou ardendo e me consumo.
Tudo o que toco faz-se luz e fumo,
Fica em carvão o que foi minha presa:
Sim, sou chama com certeza.
MORAL DE ESTRELA
Predestinada à carreira de astro,
Que te importa, Estrela, a escuridão?
Rola feliz através deste tempo!
Longe e alheia te fique a sua miséria!
O teu brilho pertence aos mundos mais distantes:
Pecado seja para ti a compaixão!
Um só mandamento vale para ti: Sê pura!
(Friedrich Nietzsche. Poemas. Tradução de Paulo Quintela.
Coimbra: Centelha, 1986, págs. 125, 133, 135, 153).
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