quarta-feira, 29 de junho de 2022

O admirável fracasso

 



   Em sua obra, John Steinbeck (1902-1968) costuma unir lindas reflexões sobre a fraternidade humana à crueldade de um mundo que explora as fraquezas dos homens, que desperta e estimula a ganância e a mesquinhez em nós. Talvez a maior tragédia de seus escritos resida na morte do grande Sonho Americano, denunciado como aquilo que ele realmente é: apenas um sonho.
    Eis um fragmento de Cannery Row, de 1945:

  “It has always seemed strange to me”, said Doc. “The things we admire in men, kindness and generosity, openness, honesty, understanding and feeling are the concomitants of failure in our system. And those traits we detest, sharpness, greed, acquisitiveness, meanness, egotism and self-interest are the traits of success. And while men admire the quality of the first they love the produce of the second.”

   – Sempre me pareceu estranho – disse Doc. – As coisas que admiramos nos homens, gentileza e generosidade, franqueza, honestidade, compreensão e sentimentos, são coincidentes com o fracasso no nosso sistema. E as características que detestamos, aspereza, ganância, cobiça, mesquinhez, egoísmo e vaidade, são os atributos do sucesso. E, enquanto os homens admiram as qualidades daquelas, eles amam os produtos destas.


(Steinbeck, John. The Short Novels of John Steinbeck.
New York: Penguin Books, 2009, pág. 505)

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