O polonês Czesław Miłosz (1911-2004) já afirmou que, como muitos de sua geração, queria que a vida tivesse sido algo mais simples. Embora sempre antipático à direita, Miłosz desiludiu-se com o comunismo soviético e, em 1951, buscou exílio em Paris. Depois, imigrou para os Estados Unidos, onde lecionou literatura eslava em Berkeley. Retornou à Polônia em 1990 e lá passou seus últimos anos. Sua obra, mesmo quando parece distanciar-se do mundo concreto, guarda mensagens latentes sobre o cenário geral do século XX: o poeta constantemente dilui impressões de sua sociedade em meditações perenes da subjetividade humana – o tempo perdido, a fé e o ceticismo, o bem e o mal.
Traduzo do inglês seu poema Tão Pouco (So Little), escrito em 1969 e publicado em 1974, seis anos antes de Miłosz receber o Nobel de Literatura.
Tão Pouco
Eu disse tão pouco.
Os dias eram curtos.
Dias curtos.
Noites curtas.
Anos curtos.
Eu disse tão pouco.
Não pude suportar.
Meu coração se cansou
Da alegria,
Do desespero,
Do ardor,
Da esperança.
Os dentes do Leviatã
Me engoliam.
Nu, deitei-me nas margens
De ilhas desertas.
A baleia branca do mundo
Me puxou ao seu abismo.
E agora não sei
O que naquilo tudo era real.
––
So Little
I said so little.
Days were short.
Short days.
Short nights.
Short years.
I said so little.
I couldn’t keep up.
My heart grew weary
From joy,
Despair,
Ardor,
Hope.
The jaws of Leviathan
Were closing upon me.
Naked, I lay on the shores
Of desert islands.
The white whale of the world
Hauled me down to its pit.
And now I don’t know
What in all that was real.
(MILOSZ, Czesław. New and Collected Poems: 1931 – 2001.
Traduzido por HASS, Robert. New York: Harper Collins, 2003, pág. 274).
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