domingo, 26 de novembro de 2023

Yehuda Amichai: Jerusalém

 


    As trágicas circustâncias da atualidade nos lembram, inequivocamente, os belos versos do poeta judeu Yehuda Amichai (1924-2000):

Num telhado da Cidade Velha,
a roupa do varal ilumina-se à última luz do dia:
o lençol branco de uma mulher inimiga,
a toalha de um homem inimigo
para enxugar o suor do seu rosto.

No céu da Cidade Velha,
há uma pipa.
No fim da linha —
um menino,
que eu não vejo
por causa da muralha.

Hasteamos muitas bandeiras,
eles hastearam muitas bandeiras.
Para pensarmos que eles são felizes.
Para pensarem que nós somos felizes.


(Em Terra e paz: antologia poética.
Tradução de Moacir Amâncio. Pág. 21)

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