terça-feira, 3 de junho de 2025

Georg Trakl: Meu Coração ao Entardecer

 


    Entoando sua típica verve enigmática, carregada, a um só tempo, de timbres frementes e serenos – fato característico de grande parte dos versos expressionistas –, o austríaco Georg Trakl (1887-1914) demonstra-nos que bem sabe dispor as palavras para pintar um mundo indiferente, envelhecido e cansado, mas ainda capaz de revelar ricos resquícios de Beleza.
    Tal como o tênue lampejo da taverna que fulgura ao viajante solitário, Trakl, cálido na vastidão escura, cintila entre a permanência e o abandono. E a linda embriaguez proporcionada pelo vinho na paisagem crepuscular não é apenas física, mas transcendental — culminando, enfim, num gesto de entrega ao doce absurdo da vida. É no beijo do orvalho noturno, afinal, que a existência nos parece suspirar um pouco de poesia.


My Heart at Evening

At nightfall you hear the bat shriek.
Two black horses leap across the meadow.
A red maple rustles.
Along the way a small tavern appears to the traveler.
The young wine and nuts are delicious.
It is splendid to stagger, drunk, through the darkening forest.
Through black branches comes the ringing of grieving bells;
Dew covers your face.

(em Selected Poems of Georg Trakl, trad. de Daniel Simko, p. 39.)

Meu Coração ao Entardecer

Quando cai a noite, tu ouves o morcego.
Negros, dois cavalos saltam pelo gramado.
Sussurra um bordo rubro.
Uma pequena taverna brilha ao andarilho.
Delicioso é o novo vinho, a noz nova é deliciosa
e é maravilhoso cambalear bêbado pelo bosque vespertino!
Entre galhos pretos, ressoam tristes sinos;
o orvalho te beija o rosto.

Emil Nolde: Autumn Evening (1924)


Foto borrada em Viena, capital da Áustria natal de Georg Trakl (7/24)



Georg Trakl: Meu Coração ao Entardecer

       Entoando sua típica verve enigmática, carregada, a um só tempo, de timbres frementes e serenos – fato característico de grande parte ...