sábado, 16 de dezembro de 2023

Tomas Tranströmer: História de Marinheiro

 


    Ler Tomas Tranströmer é sempre uma experiência maravilhosa. Sua obra, embora pequena, abarca uma potência rara. Tranströmer costuma provocar em nós um tipo particular de deslumbramento, demonstrando-se capaz de manejar intensamente o vigor imagético de metáforas que nos parecem, a um só tempo, telúricas e surreais.
    A seguir, traduzo do inglês o poema Sailor's Tale (História de Marinheiro), presente em seu primeiro livro, 17 Dikter, de 1954.


SAILOR'S TALE

There are stark winter days when the sea has links
to the mountain areas, hunched over in feathery grayness,
blue for a moment, and then the waves for hours are like pale
lynxes, trying to get a grip on the gravelly shore.

On a day like that wrecks leave the sea and go looking for
their owners, surrounded by noise in the city, and drowned
crews blow toward land, more delicate than pipe smoke.

(In the Far North the real lynx walks, with sharpened claws
and dream eyes. In the Far North where the day
lives in a pit night and day.

There the sole survivor sits by the furnace
of the Northern Lights, and listens to the music
coming from the men frozen to death.)



HISTÓRIA DE MARINHEIRO

Há dias de inverno austero em que o mar se pareia
a zonas montanhosas, retraído em cinzenta plumagem,
azul por um instante, e então por horas as ondas são como pálidos
linces, buscando a orla pedregosa.

Em dias assim, restos de naufrágios saem do mar em busca
de seus donos, cercados pelo bulício da cidade, e afogadas
tripulações vêm a terra, mais tênues do que fumo de cachimbo.

(No Extremo Norte, andam os verdadeiros linces, com garras afiadas
e olhos sonhadores. No Extremo Norte, onde o dia
vive num poço, de dia e de noite.

Lá, o único sobrevivente se senta ao forno
da Aurora Boreal e escuta a música
cantada pelos mortos de frio.)


(17 Poems, 1954.
Traduzido para o inglês por Robert Bly)

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